Já faz algum tempo que me interesso bastante pelo tema dos métodos ágeis para gerenciamento de projetos e como elas podem agregar valor ao projeto e principalmente ao moral do time. Não há como negar que algumas vezes a burocracia que metodologias mais conservadoras impõe sobre o trabalho do projeto acabam por causar problemas no logo prazo dentro da equipe, como a insatisfação, falta de motivação e às vezes um sentimento de frustração.
Para quem vive o mundo do PMI, quando lemos o Manifesto Ágil, sentimentos antagônicos de encantamento e de estranheza sempre aparecem. Mas os pontos relevantes (que aqui colocarei em uma tradução livre) do manifesto causam tanto impacto que não podemos deixar de levá-lo em consideração. Neste manifesto os pontos de destaque (na minha modesta opinião) são:
- As pessoas e as interações entre elas são mais importantes que os processos e ferramentas
- Produto funcionando é mais importante que documentação abrangente
- Colaboração com o cliente é mais importante que negociação de contratos
- Responder às mudanças é mais importante que seguir o plano
Porém alguns fatos importantes devem ser considerados ao analisarmos ambientes de projetos específicos, em especial projetos de desenvolvimento de novos produtos, que inicialmente adotou o PMBOK como padrão para a gestão de projetos. Nessa área, um fato começou a se tornar visível: o índice de sucesso e satisfação dos clientes sempre estava abaixo da expectativa.
Ora, se estamos desenvolvendo um produto, algumas caraterísticas devem ser observadas:
- O produto deve se adequar a novos requisitos que aparecem durante o processo de desenvolvimento
- As mudanças no produto podem significar maior índice de sucesso deste produto depois do projeto concluído
- O cliente (que é o dono do produto) deveria participar ativamente das decisões do projeto, e alterá-lo de acordo com o seu plano de negócios
- O plano de negócios também pode mudar no decorrer do projeto
- O cliente sempre quer ver alguma coisa pronta nas reuniões de status
- A equipe quer trabalhar em paz durante o processo de criação do produto
Hoje em dia todos pensam que isso só se aplica a desenvolvimento de software, mas os "ratos da informática" estão enganados. O método ágil surgiu (pasmem) na indústria automobilística, no processo de desenvolvimento de novos modelos de carros. Mais tarde foi adaptado e amplamente adotado pela indústria de desenvolvimento de software, onde o Scrum emergiu.
Os princípios são básicos e muito simples: rodadas de planejamento e rodadas de execução do plano, nada muito diferente do modelo tradicional. A diferença está na maneira como isso é realizado. O PMI e seu método nasceram em um momento onde os "chefes" e "gerentes" tinham formação técnica, e conheciam muito mais do que seus subordinados. Por isso o GP era o centro de tudo. Todas as decisões, todas as medidas eram tomadas por ele. Claro que ele ouvia sua equipe, mas a decisão final era do GP.
Hoje, com o alto grau de especialização dos trabalhadores, muitas vezes o "gerente" não é mais o grande técnico do passado. Normalmente seus subordinados conhecem a tecnologia em um nível muito maior do que ele. Pensando nisso, alguns visionários resolveram "derreter" a função do gerente do projeto, dando maior liberdade para a equipe do projeto (que deve ser multidisciplinar) se auto-organizar.
Após algumas experiências, percebeu-se que o moral da equipe estava mais elevado, as entregas do projeto haviam sido realizadas em prazo menor e com menor esforço. Estavam criados os fundamentos do APM (Agile Project Management).
Alguns devem estar se perguntando: e onde foi parar o gerente do projeto?
Bem, essa resposta não é simples, uma vez que a orientação dos métodos ágeis é mais aderente à gestão de produtos, e não de projetos, a função do GP foi dividida em 3 partes:
- Macro gestão - Atribuída ao "dono do produto"
- Micro gestão - Atribuída ao time de desenvolvimento
- Processos - Atribuída ao que poderia ser chamado de GP
Então o que o GP faz? Ele remove os impedimentos. Um impedimento é algo que está além da capacidade de resolução da equipe, como por exemplo falta de um treinamento específico, algum recurso material necessário para o projeto e coisas desse tipo. O GP também é o responsável por proteger a equipe das influências externas, pois, durante um ciclo de desenvolvimento, a equipe deve estar focada exclusivamente na resolução dos problemas do projeto.
Confuso? Eu também achava... Assustado? Eu também fiquei... Isso é a morte dos PMP's? Certamente não.
Os métodos ágeis funcionam muito bem quando não se tem um escopo claro e definido, quando iterações no plano são desejadas e esperadas, quando o time-to-market de um produto precisa ser reduzido (ainda que ele seja apresentado com menos funcionalidades do que o produto final). Para aqueles projetos onde o escopo é claro, o prazo e o custo são definidos, o modelo PMI ainda se aplica de forma mais eficaz. Imaginem um prédio ser planejado e construído em etapas independentes? Provavelmente não seria o método mais eficiente e eficaz para fazer isso...
O que não podemos é virar as costas para o movimento ágil, pois ele preenche lacunas expressivas que o PMBOK não sabe como tratar. Até mesmo a integração dos métodos ágil e tradicional é possível, e até mesmo saudável!
O que nós, gerentes de projetos e agentes de mudanças, precisamos ter claro em nossas mentes é que toda metodologia, todo framework, todas as boas práticas são adaptáveis e devem ser adaptadas à nossa realidade. Por isso eu indico sempre o estudo. Estude sempre. Leve consigo o que considerar adequado, guarde para o futuro aquilo que não considera ideal hoje e esteja pronto para quebrar os seus próprios paradigmas na sua profissão. Você não é gerente de projetos, você está gerente de projetos. Aproveite a jornada!
Um grande abraço!
Saúde e sucesso,
Rodrigo Ramos, PMP, CSM